Recentemente o governo estava com planos de adquirir notebooks educativos para as instituições de ensino médio, uma reunião com vários fabricantes de notebooks foi realizada para a negociação do melhor preço unitário para aquisição de 150 mil unidades para 200 escolas públicas selecionadas.
Adianto a vocês que o governo deu para trás e não realizou a compra, segundo eles tinham reservado cerca de 30 milhões de dólares para essa aquisição e a empresa que ofereceu o menor preço (Positivo) estava com o orçamento com mais de 90 milhões de dólares pelos notebooks.
Mas tirando esse episódio, será que o notebook seria realmente uma arma eficaz na educação básica e fundamental com o sistema educacional do jeito que está atualmente?
Com certeza a questão de inclusão social seria totalmente sanada, mas e para estudar outras matérias como geografia, matemática, história, etc. Nos tempos em que estudamos (pelo menos no meu tempo), a professora de história entrava na sala e escrevia no quadro inteiro, enquanto isso corria pra acompanhar a sua escrita e anotar no meu caderno também.
Ao terminar de escrever no quadro ela começava a falar sobre o assunto enquanto eu lia no meu caderno o trecho em que ela estava explicando. Por incrível que parecesse pra mim, quando eu ia estudar, sempre me lembrava de um trecho ou outro em que ela explicou e eu já sabia onde encontrar aquela frase e em qual texto. Por quê? Por que simplesmente ao ler e escrever no meu caderno o meu cérebro ia absorvendo aquela informação e depois ficava mais fácil o estudo.
Agora imagine numa sala de aula com 50 alunos e um notebook para cada um, tirando os problemas óbvios de descontração com uma máquina dessas, como joguinhos de computador, internet (caso a escola oferecesse), músicas, vídeos, e-mails engraçados, apresentações, e tudo o mais sem nenhum relacionamento com a aula em questão. A professora provavelmente começaria a aula do seguinte modo:
“Abram o PDF da Revolução Industrial e vamos começar a aula.”
Ou seja, o material já estaria pronto, já estaria digitalizado qual o único trabalho que o aluno teria? Somente de ler a nota de aula e acompanhar a explicação da professora.
Será que isso seria realmente feito?
Qual esforço para fomentar a curiosidade na mente dos alunos? Qual o estímulo para a leitura e escrita das notas de aula?
Os que por ventura tiverem computador em casa podem levar o PDF pra casa e ler depois (se ler), mas aqueles que não têm? Vão imprimir e ler depois? Será?
Hoje em dia o que precisamos saber vamos o Google e pesquisamos. O que aconteceu com o sábado à tarde em que uma turma se reunia e ia à biblioteca pública para pesquisar sobre o trabalho que tinha que entregar na segunda-feira? Simplesmente deixamos o sábado para o churrasco e o domingo de manhã para a praia, e só a noite vamos ao Google e pegamos um trabalho pronto do nosso tema, mudamos o nome, imprimimos e pronto garantimos o nosso 8 ou 9 naquela matéria, fácil não?.
Isso é educação, ou será que é o velho jeitinho brasileiro de resolver as coisas, de se dar bem?
Eu defendo a utilização do Google como fonte de informação e pesquisa, principalmente técnica, mas quando digo pesquisa é pesquisa mesmo ir atrás, entrar em vários sites, ler segundas opiniões pra depois formar a sua. Não apenas CTRL + C e CTRL + V.
Lógico que o governo precisa melhorar a educação, isso é evidente a cada dia, mas ao mesmo tempo não basta adquirir milhares de notebooks, jogar dentro das escolas sem pessoas capacitadas para operá-los corretamente (nem mesmo os professores) e dizer que isso vai melhorar a educação, que somos um país que utiliza a tecnologia para “educar” as crianças.
O sistema educacional como um todo precisa melhorar, dando boas condições para os professores, oferecendo cursos de capacitação e para os alunos condições de estudo decentes incentivando-os a serem ativos e mostrar que vale a pena se dedicar. A tecnologia sempre vai ser um aliado na educação desde que soubermos usá-la de forma correta, senão em vez de termos resultados positivos teremos uma grande massificação de preguiçosos pelo país que vive pelo jeitinho brasileiro de sempre dar um jeito quando aperta, mas e já não é assim?
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